Uma das maiores “coincidências” da minha vida: minha chegada aos Estados Unidos em 2006
- Leonardo Merçon
- há 7 dias
- 4 min de leitura
Dezembro de 2006. Eu tinha 25 anos e acabava de desembarcar nos Estados Unidos em minha primeira viagem em busca de meu sonho profissional. Comprar meu primeiro equipamento fotográfico profissional digital.

Naquela época, câmeras digitais ainda eram algo bem inacessível no Brasil, em especial equipamentos com boa resolução e lentes mais especializadas, como as minhas tão sonhadas teleobjetivas (para fotografar aves) e macro (para fotografar detalhes como anfíbios e flores).
Cheguei no aeroporto de Denver sem saber muito bem o que fazer, onde ir, ou o que esperar. Meu destino final era Breckenridge, também no Colorado, onde eu havia conseguido uma vaga para trabalhar como fotógrafo de montanha em uma estação de esqui. Mas, como em toda boa aventura, nada saiu exatamente como planejado.
A primeira surpresa: minhas malas foram perdidas pela companhia aérea. E, por coincidência — ou destino —, duas capixabas que estavam no mesmo voo que eu também estavam na mesma situação: Manuela e Juliana. Entre conversas e tentativas frustradas de resolver o problema, conseguimos que a companhia aérea enviasse nossas bagagens assim que informássemos um endereço.
Só havia um problema: eu não tinha um hotel reservado. Sim, eu cheguei em outro país sem saber para onde iria dormir naquela noite — em pleno inverno, com temperatura abaixo de zero e sem celular (e internet) como temos hoje em dia.
Entre o azar e a sorte
O que poderia ser um desastre acabou se tornando uma das maiores sortes da minha vida. Manuela e Juliana, percebendo a minha situação, me ofereceram abrigo temporário na casa onde estavam hospedadas com outros brasileiros, na cidade de Keystone — a cerca de duas horas do aeroporto e a uma hora de Breckenridge, onde eu deveria trabalhar. Sem conhecer ninguém, sem sinal de celular e sem falar inglês direito, aceitei o convite com gratidão.
Pegamos uma van e subimos as montanhas em meio a uma nevasca. Chegamos à noite em uma casa simples e aconchegante, rodeada por neve e silêncio. Assim que entrei, logo depois do hall de entrada (típico das casas do hemisfério norte, onde se tiram os casacos e botas encharcadas), olhei para o alto da escada… e levei um susto.
Quem eu vejo ali? Um dos meus melhores amigos do Brasil.
Sim. Um grande amigo meu, que também havia viajado para os EUA em busca de oportunidades, dividia a mesma casa com aquelas meninas. O Yuri Salvador, amigo da universidade com quem tenho contato até hoje, 20 anos depois.

E eu, que tinha me preparado para passar a primeira noite sozinho, em um lugar estranho, fui acolhido por pessoas queridas — em uma coincidência que parece saída de roteiro de filme.
Uma temporada inesquecível
Fui muito bem recebido por todos. Como meu amigo pôde atestar por mim, mostrei que era alguém de confiança, e logo fui convidado a ficar na casa com eles durante toda a temporada de inverno. Dividimos quartos apertados, colchões no chão, risadas e dificuldades.
Todos ali estavam com o mesmo objetivo: crescer, aprender, conquistar seus sonhos — e eu estava determinado a conquistar o meu: juntar dinheiro suficiente para comprar meu primeiro equipamento profissional que fosse suficiente para começar minha jornada com a fotografia de natureza.

Trabalhei intensamente nos meses seguintes. Era fotógrafo nas pistas de esqui, e fotografava turistas, esquiadores e snowboarders todos os dias, sob neve e ventania. Tirei poucas folgas — talvez um dia por mês — para também descer as montanhas com uma prancha nos pés e sentir um pouco da adrenalina daquele novo mundo.
Jornada de aprendizados
Essa etapa da minha vida me ensinou muito. Sobre mim, sobre o mundo, sobre a importância de acolher e ser acolhido. Eu não tinha ideia de como seria viver em outro país, mas ganhei amigos, cresci como pessoa e voltei para o Brasil com o equipamento que precisava para dar início ao meu primeiro projeto — um livro de fotografia de natureza, que também era meu projeto de graduação na universidade.
Hoje, olhando para trás, sei que aquela decisão de seguir meu sonho, mesmo sem garantias, foi o que moldou tudo o que veio depois. E sou imensamente grato às pessoas que cruzaram meu caminho naquele momento: Manuela, Juliana, Arisio, Pedro, Rafael, Camila, Mariela e meu amigo da escada, o Yuri, e todos que dividiram aquele teto de esperança comigo.
Quer acompanhar o resto dessa aventura?
Na próxima matéria, conto como foi trabalhar como fotógrafo nas pistas de esqui das montanhas geladas da América do Norte e como tudo isso influenciou meu olhar como fotógrafo de natureza no Brasil.
Então me siga nas redes sociais! Ainda tem muita história para contar e muitas outras imagens que registrei ao redor do mundo nessa caminhada que começou ali, com neve nos pés e sonhos no coração. 🏔📷

Por Leonardo Merçon
Fotógrafo e Cinegrafista de natureza, fundador do Instituto Últimos Refúgios, Mestre em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, apaixonado pelo meio ambiente! Junte-se a mim nesta incrível jornada de descobertas sobre a vida selvagem e veja mais histórias lindas que vivo estando sempre explorando a natureza.

Comentários